Ao lançar o olhar para os movimentos acelerados de homens e máquinas que transformam o Estádio Mauro Sampaio, localizado Juazeiro de Norte, a 535 km de Fortaleza, em uma moderna arena, o ex-jogador de futebol José Geraldo Olímpio de Souza, o Geraldino Saravá, rememora as próprias conquistas registradas em solo caririense, mais precisamente no gramado do antigo Romeirão. Do tapete verde do Cariri, ele saiu para se tornar um dos maiores artilheiros do futebol cearense.
Parte importante da história do futebol local, o equipamento esportivo está cada vez mais perto de reabrir para o futebol de espetáculo. Com mais de 90% de obra executada e gramado já instalado, a previsão de inauguração é fevereiro de 2022. Quando concluída, a Arena Romeirão sediará competições regionais e nacionais, mas também será uma alternativa para a realização de eventos culturais e religiosos.
O estádio já recebeu grandes nomes do futebol, como Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, e o ex-craque corintiano, Sócrates. Pelé disputou um amistoso entre Santos e Guarani de Juazeiro, em 3 de abril de 1974. O time da Vila Belmiro venceu a partida por 2 a 0, mas Pelé não balançou as redes. O jogo de Sócrates foi para ele o de despedida dos gramados, com vitória do Corinthians sobre o Vasco da Gama, por 3 a 0, em amistoso que marcou os 50 anos de morte do Padre Cícero. Assim como Pelé, Sócrates não fez gol no Romeirão.
Geraldino, atualmente com 71 anos e morador de Juazeiro do Norte, visitou as obras da Arena Romeirão em setembro deste ano, antes do plantio do gramado, a convite da nossa reportagem. Ele, que marcou 72 gols no Romeirão – nome que homenageia devotos e visitantes que fazem da cidade fundada por Padre Cícero – elogiou a nova estrutura da praça esportiva. “Para mim, que sou o maior artilheiro desse estádio, é uma alegria muito grande. Poucas cidades do Brasil têm um estádio como esse. Vai ficar essa história aqui, uma coisa linda dessa. Vai ficar um dos maiores estádios do Interior do Brasil”, comemora Geraldino Saravá.
Com capacidade para receber 17 mil pessoas, a Arena Romeirão contará com uma melhoria considerável em relação à estrutura anterior. Agora, o equipamento terá uma série de espaços para o conforto do público e dos profissionais, com 16 cabines para a imprensa (10 para rádios e seis para TVs), camarotes, praça de alimentação, Museu do Esporte, estacionamento, entre outros.
As obras de reforma e ampliação do Estádio Mauro Sampaio tiveram investimento de aproximadamente R$ 80 milhões do Governo do Ceará, sob a coordenação da Superintendência de Obras Públicas (SOP), vinculada à Secretaria da Infraestrutura do Ceará.
Para Júlio Salles, o novo Romeirão é um presente para o bom momento do futebol cearense, especialmente o da Associação Desportiva Recreativa Cultural Icasa, clube fundado em 2002, que retorna às competições nacionais após seis anos, e disputará a Série D do Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil em 2022, além da 1ª divisão do Campeonato Cearense. “Ele [Icasa] volta a disputar a Série A cearense em 2022 e disputar competições da CBF. O estádio é moderno, é bonito, e eu tenho certeza que, com um gramado bom e um time bom, como o Icasa está montando, que o prestígio do futebol interiorano cearense, principalmente o da meca do Cariri, voltará a pontificar”, avalia.
Natural de Ipaumirim, no Centro-Sul do Estado, Geraldino se destacou defendendo as cores do extinto Icasa Esporte Clube no início da década de 1970. Para ele, ainda insuperado com os seus 72 gols no Romeirão, os jogos mais memoráveis disputados no estádio eram os clássicos contra o Guarani, também de Juazeiro do Norte. “Contra o Guarani foram 39 marcados”, assegura.
Após encantar os torcedores do Verdão do Cariri, o goleador teve passagens por outros times cearenses, como Guarany de Sobral, Fortaleza, Ceará, Tiradentes e Ferroviário. “Em 1972, o Guarany de Sobral veio atrás de mim. Chegando lá, com três meses, eu fui vice-artilheiro do Campeonato Cearense. Aí, o Ceará e o Fortaleza ficaram todos doidos por mim, e o Guarany me vendeu para o Fortaleza”, conta.
No Tricolor de Aço, ele se consagrou como ídolo e carrasco dos goleiros adversários, anotando 237 gols. Também conquistou títulos com o Leão do Pici, com destaque para o bicampeonato cearense de 1974. Esse foi o primeiro campeonato jogado no Estádio Plácido Castelo (atual Arena Castelão), com um Clássico-Rei decidindo a final. “O Ceará era campeão pelo empate. Para o Fortaleza ser campeão precisava ganhar três vezes do Ceará. Em oito dias, nós ganhamos três vezes do Ceará”, orgulha-se. Geraldino também se consagrou como o maior artilheiro do Castelão, marcando 98 gols.
Nesse período vitorioso foi eternizado o apelido Saravá que, segundo o ex-atleta, surgiu porque, enquanto se dirigia até o campo de futebol, Geraldino enxergava a baliza se movendo, como se as traves se organizassem evidenciando o bom lugar para o gol. Era assim que ele decidia onde deveria chutar a bola. As visões eram compartilhadas com os colegas de equipe e a imprensa esportiva. Júlio Salles, radialista e narrador esportivo, acompanhou de perto essa jornada, sendo o responsável por cravar e disseminar a alcunha Saravá – expressão utilizada entre participantes de cultos afro-brasileiros como uma saudação. “Eu o batizei [de Saravá] porque sempre que eu encontrava o Geraldino ele estava vestido de branco”.
Em 1992, Geraldino Saravá foi campeão cearense com o Icasa, como treinador, realizando as partidas em casa no antigo Estádio Romeirão.
A expectativa é que nem só de futebol viverá o Romeirão. A arena multiuso também potencializará as atividades culturais e turísticas da região do Cariri, que possui mais de um milhão de habitantes distribuídos em 28 municípios.
Juazeiro do Norte, por exemplo, recebe anualmente mais de 2,5 milhões de visitantes de diferentes cidades brasileiras, que chegam à “Capital da Fé” em busca das romarias – são realizadas 12 ao longo do ano – e festas populares. A cidade conta com uma diversa rede hoteleira, infraestrutura rodoviária e aeroporto regional.