Em meio à tensão e à expectativa de um dia de prova de vestibular, eis que um imprevisto acontece e torna a experiência ainda mais cheia de emoção e adrenalina. Um dos ônibus que levaria alunos da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Salaberga Torquato Gomes de Matos, de Maranguape, para prestar o vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), na manhã dessa segunda-feira (15), passou por problemas e, por pouco, 55 jovens não perderam a prova.
O final do episódio, contudo, foi feliz. Um outro veículo foi providenciado e todos aqueles estudantes conseguiram realizar o exame, ainda que a entrada no ambiente de avaliação tenha se dado no “último minuto”. Neste cenário, uma imagem, em especial, tornou-se foco das atenções: um professor que carregava nos braços uma de suas alunas.
Leandra Araújo, de 17 anos, encontrava-se naquele ônibus e, estando com um dos pés imobilizados, devido a um machucado, não teria condições de se locomover com a agilidade necessária para atravessar o portão do local de prova no tempo marcado. Num gesto intuitivo, o professor José Francisco do Nascimento – conhecido como Byzzé -, que acompanhava a comitiva, colocou a estudante nos braços e correu em direção ao portão. Foi assim que ninguém ficou para trás.
Byzzé, que leciona as disciplinas de Língua Portuguesa e Cidadania na EEEP, também atua como diretor de turma e, pela própria característica da função, acompanha de forma mais presente a vida dos alunos. Professor há 26 anos, ele está desde 2009 na escola profissional de Maranguape, ano em que a unidade de ensino foi inaugurada.
“Naquele momento, o que me veio à cabeça foi que eu não poderia deixar nenhum deles para trás. Isso me motivou a ter uma atitude positiva e literalmente carregar a Leandra nos braços. Acredito que faço esse gesto diariamente com todos os alunos, sem que eles percebam. Acompanhei o crescimento de todos os que passaram pela escola e sei o quanto fiz parte da história deles. Vejo em cada um o retrato de sucesso e superação das dificuldades que eu passei quando estudante. Posso dizer que realizo meus sonhos ajudando a realização dos sonhos deles”, reconhece o educador.
Leandra, que prestou o exame para o curso superior de Enfermagem, mesma área na qual faz o curso técnico na escola profissional, completa: “Quando o Byzzé me carregou nos braços, me senti importante. Consegui perceber, através dessa atitude extrema, como se preocupam comigo na escola e acreditam que sou capaz”.
A estudante relata, ainda, ter passado por momentos delicados ao longo do Ensino Médio, com incertezas e angústias durante o percurso, mas o incentivo que recebeu da escola foi preponderante para que permanecesse firme no objetivo. “Nesse momento, meu coração se enche de amor e agradecimento a toda a escola. Principalmente, à minha diretora de turma. Tive vontade de desistir, mas ela e a gestão da escola nunca desistiram de mim”, frisa.
Sobre a cena que foi transmitida pela TV e viralizou nas redes sociais, a diretora da EEEP Salaberga Torquato, Janaína Belo, lembra que tudo transcorreu de maneira muito rápida, e que a união de todos em prol do objetivo foi fundamental para que a história tenha tido contornos positivos. “Não desistimos nenhum instante. O Byzzé representa muito bem os nossos professores, que fazem de tudo para apoiar os estudantes. Mantemos viva a prática de cuidar dos alunos. Não os vemos apenas como números, mas como pessoas que merecem a nossa atenção e carinho”, ressalta a gestora.