Vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que um comandante da Polícia Militar do Paraná admite a um grupo de bolsonaristas pró-golpe que está "prevaricando" ao permitir o bloqueio parcial de uma rodovia. Bolsonaristas bloqueiam estradas desde o último domingo (30) quando foi anunciada a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL).
Nos protestos ilegais, os manifestantes pedem por "intervenção militar" e novas eleições. No vídeo, o coronel Hudson Leôncio Teixeira diz que os manifestantes precisam ter "bom senso" e respeitar o direito de ir e vir —a fala é similar ao que foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro.
Durante a negociação, o coronel sugere que o grupo ocupe apenas uma faixa da PR-151 em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Ele ainda admite que "já deveria ter feito isso ontem" se referindo à liberação total da rodovia.
"É preciso que vocês também tenham bom senso senão a gente vai fazer o que a lei está determinando. Na verdade, a gente está prevaricando. Já deveria ter feito. Vamos começar a fazer multa para todo mundo, multa de trânsito e aquela multa de R$ 100 mil."
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um novo pronunciamento pedindo aos seguidores que liberem as estradas. Após a declaração, a PRF diz que os bloqueios caíram de 106 para 86 em rodovias federais.
Descreve o artigo 319 do Código Penal: "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal".
Em entrevista à RPC, afiliada da Globo em Curitiba, o coronel Hudson Leôncio Teixeira disse que prevaricou "tentando garantir um bem maior" e que optou pela mediação do conflito porque os ânimos estavam acirrados.
Segundo ele, a medida é comum em "ações de choque e de uma negociação que estava sendo feita desde ontem, com a responsabilização das pessoas".
O coronel acrescentou que consegue desbloquear rodovias do Paraná a qualquer momento, mas que precisaria fazer o uso da força.
"Eu consigo a qualquer momento se eu fizer uso da força. Só que eu tenho responsabilidade [...] Estou cumprindo a ordem que a justiça determina dentro de uma proporcionalidade, eu estou prevaricando no momento em que eu não faço o desbloqueio total da rodovia, que não consigo sem o uso da força, eu não consigo sem lesionar pessoas, eu não consigo fazer isso dessa forma."
O UOL procurou a Secretaria de Segurança Pública do governo do Paraná, mas aguarda retorno.
Quando começaram os protestos? Ainda no domingo (30) à noite, horas após sair o resultado das eleições, caminhoneiros bolsonaristas começaram a fechar trechos de rodovias para contestar a vitória de Lula. No dia seguinte, segunda-feira (31) as paralisações já alcançavam 25 estados e o Distrito Federal.
Sem uma liderança identificada, os bloqueios ganharam corpo enquanto Bolsonaro se mantinha em silêncio sobre o desfecho das eleições. Só na terça-feira (1) à tarde, mais de 44 horas após a divulgação do resultado das urnas, o presidente se manifestou. Ele disse que "manifestações pacíficas são bem-vindas", mas defendeu que o direito de ir e vir da população fosse preservado —o que reforçou no vídeo de hoje.
Desde terça-feira à noite, bolsonaristas também passaram a se concentrar em frente a instalações militares em 25 estados e no Distrito Federal. Apenas no Amapá não houve registros de protestos. Os maiores atos, em Brasília, no Rio e em São Paulo, reuniram milhares de pessoas.